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By Ferramentas Blog

Dia 7 - Caos?

6 de abr. de 2010

06.04.2010
Adiantando um pouco o diário de viagem, vou falar logo da terça-feira, dia das enchentes, deslizamentos, alagamentos, congestionamentos e outros acidentes causados pelas chuvas.

Não vou me estender pelo que já saiu em todos os jornais. Morreram quase 100 pessoas no estado, Niterói foi a cidade mais atingidas, com 46 mortes confirmadas até a noite do dia 6 e um monte de coisas deixaram de ser noticiadas para mostrar apenas imagens trágicas dos deslizamentos de morros e mortes. As ruas virando rios não foi o único fato preocupante e nem só de solidariedade é feita a população.

Enquanto, de um lado, tinha um monte de gente ajudando a remover escombros e tirar pessoas de baixo dos destroços, quem ficou preso em algum congestionamento sofreu arrastão. A informação que tenho é de arrastões na cidade do Rio e assaltos em certos pontos de Niterói (o fato de ser “perto do Sendas” não é muito significante para mim nem para meus leitores de fora de Niterói, sei que fica a pouco tempo de caminhada do edifício aonde estou).

O dia não começou bem. Desde as 21h do dia 5 que não tinha internet. À meia-noite, acabou a luz em todo canto que pudemos ver daqui do apartamento. Por volta de uma hora da manhã, os postes das ruas e algumas salas do prédio da graduação em Computação da UFF, que ainda estavam acesos, também se apagaram.

Manhã
Acordei às 8h, pretendia assistir à aula do professor João Luiz Vieira, no campus de Gragoatá, mas não tinha luz para olhar o mapa e a chuva ainda caía implacável. Dei uns 15 minutos, pensando se valia a pena. Não consegui lembrar o caminho para o campus, decidi voltar a dormir e mandar um e-mail para o professor, pedindo desculpas por não ter comparecido.

Mais tarde, levanto novamente. Não fizemos compras no dia anterior por causa da chuva, então, para mim, o café da manhã estava comprometidíssimo. Sem energia, não dava para usar a cafeteira, teria que improvisar. Para minha surpresa, não havia fósforo. O fogão, por ser elétrico, também estava inutilizado. Estressada e com dor de cabeça, decidi enfrentar a garoa e comprar um café. Aproveitaria para comprar pão, fósforos, mel e um jornal, era impensável continuar sem saber o que estava acontecendo na cidade.

Encontrei um bar/lanchonete/boteco aberto na cidade deserta, com quase todos os estabelecimentos fechados por causa da falta de energia elétrica. Pedi o café, deixei de lado a frescura de querer xícara, me daria a esse luxo depois e assuntei com o pessoal sobre o que estava acontecendo. Os donos do lugar moram em São Gonçalo, tentaram voltar para lá ontem de noite e não conseguiram, o temporal alagou todas as ruas. Às 9h da manhã, voltaram para a lanchonete, em Ingá, após passar a noite no carro. A dona, muito simpática, me falou sobre uma senhorinha¹ que é a figura da região (me lembrou um pouco do velho do doce de João Pessoa²).

Tomei o café, descobri que havia uma mercearia aberta mais para frente, além do supermercado perto do Sendas. Parei na mercearia. Faltava o mel, mas tinha pão, fósforo e uma banca de revista ao lado. Pensei em ir até o supermercado, mas desisti. A chuva ameaçava engrossar. As poucas pessoas que estavam nas ruas se apressavam em voltar para casa. Tratei de voltar também.

A chuva ainda estava fina, mas o vento estava mais forte. Passando por uma ruazinha mais baixa, aonde fica o prédio de Arquitetura e da pós-graduação de Computação, ouço alguém falando para o amigo andar mais rápido, que dali a pouco alagaria tudo. Já estava perto de casa, mas o alerta piscou na minha mente. Saber das notícias era uma coisa, ser a notícia não é tão atraente. As salas de aula da UFF estavam acesas, bom sinal. O bandejão e o restaurante self-service de lá, aonde almoçamos, no entanto, estavam fechados. Teríamos que improvisar, foi bom eu ter comprado fósforos.

Notícias
O jornal não trouxe nenhuma informação relevante. Falou das chuvas, do alagamento em São Gonçalo e mais nada. Fiquei meio frustrada, afinal Niterói estava toda fechada, não parecia haver energia elétrica em canto algum e não dizia o motivo. Também não tinha nada sobre o Rio no Fluminense, mas no Extra, da capital, que olhei na banca, também não tinha nada. Não tinha outras opções, então trouxe o da cidade, achando que encontraria algo mais do que um quarto de página falando sobre o que aconteceu em Niterói.

Bateu cólica. Liguei para a farmácia e desci para esperar, afinal os interfones não funcionavam. Passei mais de uma hora esperando, o que me deu tempo de conversar bastante com o porteiro, que tinha andado por aí, então provavelmente sabia de algo. Ele logo me informou que houve deslizamentos, gente morrendo soterrada, árvores caídas nos fios da rede elétrica e falta de luz em praticamente toda a cidade. Somente nos dois shoppings e no Centro havia energia elétrica.

Soube também que estava difícil de ir para o Rio, quase não tinha barca saindo e a ponte não era segura. As pessoas que chegavam ao prédio informavam que a luz estava voltando aos poucos. Por volta das 13h, a energia voltou, meu remédio para cólica não chegou e subi para almoçar.

Ilhada
Passei o resto do dia em casa, isolada do mundo. A internet não voltou e meu namorado foi a uma reunião na Universidade, onde, com os amigos, viu que o Rio de Janeiro como um todo estava em estado catastrófico e me ligou, pedindo para adiar o meu vôo para o dia seguinte.

O aeroporto Santos Dumont estava desviando tudo o que podia para o Galeão, consequentemente os vôos estavam atrasando, diversos estavam sendo cancelados e, para evitar tumulto, sugeriu que eu adiasse a partida. A companhia aérea, felizmente, estava remarcando todos os vôos sem cobrar taxas.

Nos jornais da TV, tive conhecimento do tamanho do estrago que tomou conta do Rio. Com o telefonema do tio do meu namorado, soube dos problemas não noticiados. Mais tarde, vi que podia, sim, ter partido no dia programado, mas namorado insistiu que eu pegaria muito tumulto (e eu fiquei com medo de ser vítima de arrastão, confesso) e amanhã seria mais calmo. O tio insiste para que eu fique até domingo, para ir de novo à Teresópolis. A tentação é grande (enorme!), mas não tenho roupa e tenho afazeres. Uma pena.

Pormenores
No mais, tivemos um dia calmo, não fomos notícia, vimos pouca coisa com o que nos preocuparmos, exceto o jantar. Namorado fez um bacalhau ótimo, não fosse pelo fato de ter esquecido de dessalgar o peixe. Meu remédio para cólicas chegou com 3 horas de atraso. Fui paquerada por um guri de uns 16 anos no caminho para a mercearia. Quase tive uma crise, porque não tenho um livro de diversão para ler e a abstinência é grande. Adoro quadrinhos, mas os heróis da Marvel, que meu namorado acompanha fielmente, não satisfazem o meu vício. Acredito que o professor vá entender por que eu faltei à aula.

¹ Contarei essa história depois.
² Estou devendo essa história a mim mesma à muito tempo.
* Continuo sem internet! O post estava preparado no Word e um modem 3G possibilitou que eu postasse hoje.


Os outros dias:


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1 comentários:

Fernanda Eggers disse...

De Alexandre Moroni, via e-mail:

Minha noussa oO realmente dia bem movimentado, mas ainda bem que terminou tudo bem. ^^ O mais interessante, pelo menos do meu ponto de vista, é ter uma jornalista no olho do furacão, falando o que está acontecendo com a ótima de quem está vivendo a situação. Para mim, jornalismo deveria ser isso, exatamente isso que você está fazendo, colocar o leitor no local dos acontecimentos, mas o sistema de venda de noticias que foi criado não favorece muito o bom jornalismo. De todo modo, gostei muito do post (dentro do possível de se gostar de tanta desgraça), e você está de parabens fefs, muito bom mesmo.

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