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By Ferramentas Blog

Da Shoes

12 de set. de 2009

Ela estava sentada na praça de alimentação do shopping, acompanhada de duas amigas, e com uma tortinha de chocolate à sua frente, da qual comera apenas duas colheradas e constatou que foram os três reais mais mal pagos numa sobremesa. A massa não tinha gosto e parecia ser de três dias atrás. O recheio tinha gosto. Um gosto azedo muito, muito fraco. Inadmissível, em qualquer contexto, para uma tortinha de chocolate. Deveria ser forte e ou doce ou amargo. Por cima, havia o granulado, que deveria salvar o doce, mas era só um montinho marrom e insípido. Como é que eles conseguiram comprar granulado sem gosto de nada?!

As mulheres conversavam animadamente sobre a loucura, paranóia e esquisofrenia alheia e riam como crianças. As três tinham 20 e poucos anos, vida encaminhada e uma tarde livre para colocarem os assuntos em dia.

Numa mesa a poucos metros de distância, dois homens levavam suas vidas. Um deles olhava para a mesa das garotas com alguma freqüência. Passado algum tempo, ele levantou e foi embora. Retornou algum tempo depois e, com uma caixa nas mãos, pediu licença e direcionou a fala para a garota da tortinha insípida de chocolate.

- Com licença... É que eu sou do interior...

A caixa continha o símbolo de uma marca de calçados. O homem devia estar beirando os 50 anos, usava uma camisa de baixa qualidade e, pelo início do discurso, rosto castigado e barba por fazer, as três pensaram que ele queria vender o sapato.

- ... e queria saber quanto a senhora calça.

O pensamento continuava o mesmo. A mulher com a torta já pensava numa forma delicada porém decidida de dizer que não iria comprar. No entanto, a pergunta não fazia sentido.

- Veja se é o seu número, por favor.

Ele abriu a caixa e ela olhou, balbuciou qualquer coisa que podia ser entendido como "sim", "é" ou "não" e olhou para ele e para as amigas com a expressão de confusão estampada na cara.

- É porque eu achei a senhora muito bonita e comprei esse sapato para a senhora.

"Ok.", ela pensou, "Isso não faz sentido. Não faz o menor sentido." A única coisa que ela conseguiu expressar foi um "Hã?"

- É que eu estava observando a senhora da outra mesa e a senhora é muito bonita. Eu fiquei admirado e comprei esse sapato. Eu queria que a senhora aceitasse.

Ela estava admirada, envergonhada, intrigada, surpresa, assustada e queria se enfiar embaixo da mesa, abrir um buraco, se enfiar dentro e sair correndo. Tudo ao mesmo tempo.

- Olha, me desculpa, muito obrigada, mas eu não posso aceitar.

As amigas estavam, provavelmente, tão ou mais surpresas e intrigadas. Suas feições mostravam o riso contido e a confusão.

- Por favor, aceite! Eu não quero nada da senhora, mas estava te observando e achei a senhora muito bonita!

- Sinto muito, mas eu não posso aceitar. Obrigada, mas eu não posso!

- Moço, ela é praticamente noiva! - Exclamou a amiga que estava sentada na frente, na tentativa de fazê-lo desistir.

- Praticamente não, eu sou! - Ela não era, mas pensando bem, era como se fosse. E, naquele momento, diria até que era casada se isso fizesse o sujeito desistir.

- O seu noivo pode até me matar, mas por favor, aceite as sandálias. Eu comprei comprando na senhora.

Ela havia achado que ele poderia estar sob efeito de drogas ou ter algum problema mental, por causa do jeito embargado como falava.

- Por favor, pelo menos prove, veja se é seu número, veja se cabe!

Ela pegou uma das sandálias, retirou a que estava calçando e provou, com a esperança de que, assim, o homem se desse por satisfeito e fosse embora, levando com ele as sandálias. Enquanto trocava, ele a observava. Um pensamento correu sua cabeça: "Será que ele é um podólatra?" Isso a assustou, mas logo o pensamento foi afastado: "Nah, deve ser só maluco mesmo." Ela não gostava da idéia de um estranho observando seus pés.

A sandália entrou, mas não fechava. Ela fingiu que sim, só para se ver logo livre. Calçou de volta a sandália original e colocou o "presente" de volta na caixa, que fechou e empurrou de volta para o estranho, enquanto ele expressava sua felicidade por ter "acertado" o número, ela continuou tentando lhe esplicar que não poderia aceitar, que ele deveria devolver para a loja.

No entanto, ele era muito insistente e, se antes havia mantido uma distância respeitável, agora se aproximava dela por cima da mesa. Continuava chamando-a de senhora, falando de sua beleza e de como tinha que aceitar o sapato. Esperando que ele parasse de se inclinar para ela e fosse embora, ela finalmente aceitou a caixa.

O estranho agradeceu efusivamente, falou algo mais sobre ser do interior, disse seu nome e estendeu-lhe a mão. Ela apertou a mão dele, com um sorriso amarelo. Podia sentir seu rosto pegando fogo de vergonha. Não disse como se chamava. Ele não perguntou nem insistiu. Apertou a mão das outras duas e voltou para sua mesa.

As gargalhadas explodiram entre elas. O absolutamente improvável havia acontecido.

- Ainda bem que eu vim! - disse uma - Porque se você me contasse, eu nunca que ia acreditar numa história dessas!

A presenteada escondeu o rosto nas mãos. Estava rindo, achando tudo muito absurdo, surreal e improvável. Ela admitiu que, se contassem a história para ela, jamais acreditaria! Mas notou que os homens na outra mesa estavam olhando para elas. O do interior parecia exultantemente satisfeito. O amigo permanecia com uma expressão séria.

Com o rosto ainda escondido, ela pediu para saírem dali. Levaram, então, suas risadas e expressões de incredulidade para outro andar no estabelecimento. Uma alertou para a necessidade de verificar se não estavam sendo seguidas. A presenteada assentiu e ficou prestando atenção. A outra amiga pareceu ofendida pelo abandono da tortinha ruim.

A sandália não apenas era um número menor, como não era seu estilo. Pensou em dar de presente para outra amiga, mas foi dissuadida e decidiu trocar por algo que pudesse usar para ir para a universidade. A marca não era das melhores, o material utilizado era reconhecidamente de baixa qualidade. Ainda assim, trocou por outro da mesma marca. A visão da caixa provocou gargalhadas durante o resto da tarde. No fundo, acompanhando a incredulidade, havia um sentimento de ego inflado.


******


Mas Fernanda, diria você, isso não faz sentido nenhum! Quem, em sã consciência, daria uma sandália de presente para alguém que não conhece, só porque achou bonita? Se ainda fosse... Sei lá! Um bombom, uma trufa, uma flor... uma coisa barata assim... Mas uma sandália?


Acontece que, por mais que não faça sentido, essa história é verídica. Aconteceu ontem, comigo, enquanto estava no shopping com @denisecarneiro e @manu_lopes. Eu ainda estou pasma, mas tem um saco lá em casa com um sapato que eu não comprei, vindo de uma loja aonde eu nem entro. Vale salientar: o cara estava bêbado.

Minha própria mãe não acreditou na história! E ainda brincou que bem que podia ter sido o scarpin azul lindo de morrer que vi na Arezzo. Mas, se eu não queria aceitar um sapato de R$30, não aceitaria de jeito nenhum um de R$200!

Escrevi isso aqui porque é um fato digno de um conto. Se eu tivesse criado uma história dessas, não se pareceria tanto com ficção quanto a tarde de ontem. Que, by the way, teve outros fatos novelescos, como reencontros e reconciliações.

Ah! E não comam n'A Saborosa! Pelo menos não os doces! PÉSSIMA torta, lugar desorganizado e com uma ligeira falta de profissionalismo.



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3 comentários:

Fernanda Eggers disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Desoriental disse...

Se Denise não tivesse me contado, seria difícil de acreditar, de tão pictórica que foi a situação. O mais interessante foi o fato dele ter escolhido uma sandália dentre todos os possíveis presentes. De todo modo, deu para massagear a autoestima, né?

Fernanda Eggers disse...

ÔÔÔ! Com certeza! xD

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