No caminho de volta, o motor do carro roncava alto, e eu só pensava no barulho de decolagem do avião. Era igual. Na minha cabeça, ao menos, era igual. Enquanto meu sogro zunia pela estrada, meus pensamentos estavam com o filho dele, naquela altura do campeonato já cruzando o país. Já devia estar saindo do Nordeste. E eu, ainda nem tinha saído de Pernambuco.
A viagem até Recife foi tranquila, quente, apesar do ar-condicionado, com o sol a pino invadindo minha janela. Ele do meu lado. A camiseta aberta por causa do calor. Eu olhava e pensava que morreria de saudades daquele 6-pack. E olhava pra ele através dos óculos escuros, com o marejado dos olhos muito bem escondidos e perguntava: "E agora, já posso começar o drama?" "Ainda não", dizia ele, "só quando eu estiver indo." Meu estômago então se revirava, não sei ainda se por causa das saudades prévias ou do balanço do carro, do zigue-zague da estrada, que me deixavam enjoada.
Ainda brinquei que tinha entendido o ditado "fazer das tripas coração". Ele me olhou com aquela ruguinha de indagação entre os olhos, também protegidos do sol, e eu disse que meu estõmago estava todo revoltado, e a culpa era dele, que não queria que eu chorasse. Se tivesse uma gastrite, ia mandar a conta pro Rio. Ele riu, eu sorri. Conversamos amenidades.
Aeroporto de Recife. Despachar malas, taxa de embarque, check-in. Um lanche rápido - muito rápido - e hora da despedida. Minha garganta fechou, a voz embargou, correram umas poucas lágrimas. Abraços, beijos, abraços na sogra, boa viagem, me manda uma mensagem quando chegar, pra eu ter certeza que o avião não caiu.
Até que o choro foi pouco. A fome pra lanchar depois foi pouca. A vontade de voltar pra casa foi pouca. Grande mesmo foi o choque. Voltar pra casa, pro meu quarto bagunçado, tomar banho e saber que não farei uma chamada local para comentar os acontecimentos do dia, não farei um charme para encontrá-lo fora de hora, o próximo abraço tem data certa para acontecer: cerca de 3 meses. Tudo isso pesou por dentro, ao mesmo tempo que esvaziou minha cabeça. Uma dor gelada sobe pelo esôfago. O rosto está quente e a cabeça girando. O lado irracional briga pra explodir, o racional lembra-me das outras coisas.
Daqui a pouco o avião pousará e ele sairá, já nem lembro se do Galeão ou do Santos Dumond. Estará cansado, meio amarrotado, espero que minimamente alimentado. Espero também que encontre fácil a carona dos parentes que o levarão para sua moradia temporária. Então meu telefone vai tocar e eu vou ler/ouvir que o avião não caiu, ele está bem, vai descansar e amanhã deve começar a procurar apartamento. E eu vou chorar e ele vai mandar eu parar. Porque não é o fim do mundo, achar passagens de avião com desconto não é difícil e eu tenho uma monografia para fazer.
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By Ferramentas Blog
"Das Tripas, Coração"
9 de mar. de 2010
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